Por: Marina Delamo
Futebol é a simples representação de entrega. Entrega de coração, corpo e alma a um clube que logo se torna parte de nós. Um dérbi deve representar o mesmo, mas do lado de lá do alambrado.
6 de maio de 1917. Uma data conhecida por poucos mas vivenciada há 100 anos por milhares. O marco inicial de uma disputa regada a paixão e rivalidade.
Pela primeira vez era possível ver verdadeiras multidões nos estádios de São Paulo. De paulistas do bairro do Bom Retiro, apaixonados pelo alvinegro, aos ítalos-brasileiros arraigados ao Palestra que trazia consigo sua Itália.
O fatídico primeiro jogo teve a equipe anfitriã como vencedora, 3×0 para o Palestra Itália. A maior goleada aconteceu em 1933, quando, no Parque Antártica, os palestrinos venceram os alvinegros por 8×0. O maior número de vitórias também é verde e branco, 125×120.

Uma boa história sobre o clássico precisa ser contada. O ano era 1974 e o Palmeiras tinha um verdadeiro esquadrão acostumado a levantar taça todo ano. A temida Segunda Academia tinha peças como Ademir da Guia, Dudu, Luís Pereira, Leivinha e Leão. E mesmo assim a mídia dava ao Corinthians, que passava por uma fila de 20 anos sem títulos, a alcunha de levantar a taça do Paulista de 74.
Com mais de 100 mil corintianos, em um total de 120.522 de pessoas, no Morumbi, surgiu o alviverde imponente, no gramado em que a luta o aguardava. Ronaldo marcou o único gol da partida e viu a minoria do estádio gritar: “zum zum zum é 21”. A fila corintiana se estendia por mais um ano.

“A festa estava toda pronta para eles, mas as pessoas esqueceram que do outro lado estava o Palmeiras” – Leivinha.
Indo para o ano de 1993, outra história de alto valor sentimental também precisa vir a tona. Dessa vez quem estava na fila era o Palmeiras e precisávamos sair dela em grande estilo. Já completavam 17 longos anos que não gritávamos o que mais nos fizeram gritar até 1976: “É campeão!”
O Morumbi era novamente o palco de uma decisão de Campeonato Paulista e os donos do espetáculo eram, mais uma vez, Palmeiras e Corinthians. O Palmeiras era um time desconfiado não apenas pela mídia, mas por todos: em formação, com nova camisa, novo patrocinador. Seria possível? Viola nos mostrou que sim.
“A arte de vencer se aprende nas derrotas” – e nas provocações, complementando Simon Bolívar. Viola naquela comemoração nos fez mais porcos do que nunca. Zinho, Edílson e Evair nos fizeram os campeões de sempre. E em uníssono, cantamos com toda potência dos nossos pulmões até hoje: “4×0 pro verdão!”

“Ninguém comemorou imitando gambá, ninguém acirrou rivalidade porque não queríamos dar a motivação e o ânimo que o Viola nos deu. Não poderíamos fazer a mesma coisa. Tínhamos de ser inteligentes” – Zinho.
Ah, 1999, 2000… Vampeta! Marcelinho! A taça Libertadores obsessão, a eliminação alvinegra nas quartas de final e na semifinal, o grito de campeão da América e a consagração do nosso São Marcos de Palestra Itália. Dois anos para não serem esquecidos por nós.
Só quem é, sabe o que é comemorar um gol nesse clássico. Que dirá um título. A adrenalina que corre pelas veias é posta em um grau máximo de prazer e logo nos vemos com as cordas vocais falhadas.
Há quem apelide a casa deles de “salão de festas Palmeirense”. Não tiro a razão. Em número de vitórias, gols e eliminações estamos na frente. E eis que surge o discípulo de São Marcos: Fernando Prass.
“Petros partiu, bateu, pé direito na bola: Feeeeernando Prass!”

Há 2 anos e 14 dias não sentimos o gosto amargo de perder esse dérbi recheado de histórias que perduram por 100 anos. E hoje mais um capítulo dessa história será escrito.
Por isso, jogadores, façam como nós e se entreguem. Deem suas vidas e rendam-se ao maior dérbi do mundo.
FORZA PALESTRA